A anatomia das lendárias CRTs, ou melhor, TVs de tubo
Quem viveu pelo menos até os anos 2000 teve contato direto com as CRTs (Cathode Ray Tube, que significa “tubo de raio catódico” em tradução), popular e carinhosamente chamadas no Brasil de TVs de tubo. Antes mesmo de existirem televisões finas, com ultratelas e diversos recursos embutidos, a mágica era feita com o aperto de alguns botões e usando conexão dos cabos de três cores. As opções de consoles que os jogadores de plantão tinham eram SNES, Nintendo 64, PS1, dentre outros. Em sua estrutura, o aparelho contém um tubo catódico – o que levou ao apelido -, que funciona como um funil de grande abertura para a tela. Atrás dele, estão canhões de elétrons direcionados para o visor. Eles fazem o disparo ao serem esquentados pela eletricidade e formam a imagem, pixel por pixel, mesclando as cores. O resultado é uma televisão que supria as necessidades da época, quando ainda não eram conhecidas as funções HD, 4K e afins. Anos se passaram e as telas finas se tornaram populares nas residências brasileiras. No entanto, nos últimos anos, surgiu o interesse por parte da comunidade gamer em revisitar o passado e seus costumes antigos. Um desses métodos foi a partir de jogos que adotassem a estética pixelada, por exemplo, que dá a ideia de “retrô”, com base na sensação de assistir a um gameplay em displays antigos. Embora exista tecnologia de ponta para desfrutarem tal desejo, a ideia foi além e os amantes de videogame estão testando jogos da nova geração de consoles, do gênero de aventura ao FPS, em TVs de tubo em busca de ainda mais nostalgia. E seus resultados foram positivos.
Como usar videogames novos em TVs de tubo?
Para testar a potência dos consoles da nova geração – Xbox Series X e PS5 -, o entusiasta e produtor de vídeos da Digital Foundry John Linneman fez uso da Sony GDM EW900, CRT da Sony, e comparou a qualidade da imagem, bem como fez uma análise sobre como as sensações dos jogos podem ser transmitidas ao dono do controle de maneira diferente em uma TV de tubo. Ao contrário de boa parte dos eletrônicos modernos, as CRTs de antigamente não possuíam entrada HDMI. Em função disso, John buscou um adaptador VGA para fazer a conexão de seus jogos, que rodam com a resolução de 1080p. É possível também utilizar uma espécie de “caixa analógica inteligente“, ferramenta para conectar devidamente ambos dispositivos. O teste também foi realizado no PC, mas, neste caso, é recomendado um dispositivo de melhor qualidade, estilo USB-C, para a CRT suportar a imagem do computador. Isso impede também que haja uma queda brusca de frame rate – a taxa de quadros que serão rodados por segundo.
É possível gerar uma boa imagem dos consoles da nova geração em televisões antigas?
A TV escolhida por John suporta 1440p, o que é notável ao se levar em conta que o aparelho possui mais de 20 anos de idade (lançado em 1999). Consequentemente, qualquer jogo executado com menor resolução nessa CRT pode ser ainda melhor aproveitado do que em uma TV de tela plana. A imagem transmitida apresentará menos pixels, mas ainda estará agradável e isenta de um enorme borrão, o que tipicamente seria presenciado em uma TV de hoje. Nesse quesito, as CRTs são vantajosas no aproveitamento dos jogos em display. Como prova dessa tese, John utiliza Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão em dois inputs: 1080p e 720p. A figura da personagem Rivet na televisão muda minimamente entre a qualidade de uma imagem para outra. A experiência ainda prevalece e é possível desfrutar tranquilamente dos visuais limpos sem grandes interferências. Isso é válido para outros títulos de outros consoles também, como os da Nintendo. Outro recurso que ganha destaque nas CRTs é o balanceamento dos tons de preto nos frames de imagem dos jogos. Em comparação, John usou um monitor da linha OLED CX, da LG, como base e ativou a funcionalidade para diminuir as grandes aparições de borrão. Os tons mais claros vêm à tona, como em um modelo mais antigo, e são satisfatórios. Porém, como lado negativo, a imagem fica mais instável nesse monitor em 60hz. Uma vantagem das CRTs, no entanto, acima dos displays modernos, é sua qualidade de contraste. Surpreendentemente, ambientes escuros são melhor representados, enquanto as telas atuais se tornam cada vez mais escuras. Esse também é um fator passível de ligação com a questão dos tons pretos, mencionada anteriormente. Uma qualidade especial das CRTs destacada ainda por John é a visão do jogador a uma tela de tubo, que é composta por fósforo. Especialmente mais complicado de se observar por gravação, há uma certa elegância na maneira como o vídeo se mostra nas CRTs, o que intensifica ainda mais a experiência nostálgica, seja com um título novo ou antigo. É muito provável que os entusiastas de videogame, assim como John, tenham interesse em buscar essa alternativa a fim de saciar a nostalgia por jogos antigos. Por outro lado, isso também prova que, independente do título escolhido – lançamento ou não -, não é obrigatório ter uma TV com tecnologia de ponta para se divertir com tais games. Na verdade, ainda é a realidade de muitas pessoas não hospedarem um grande telão em suas casas. Embora, claro, seja muito mais prático utilizar um PS5 ou um Xbox Series X em televisores designados para eles, há essa opção vaga disponível que, por sinal, se mostrou bem útil em ressignificar o propósito das TVs de tubo, consideradas apenas como “ultrapassadas” na era moderna.
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