Se você perdeu o fio da meada, o grande artista que atuou em filmes como Duro de Matar, Corpo Fechado, O Sexto Sentido e tantos mais foi diagnosticado com afasia. A empresa Deepcake conseguiu mudar isso de uma forma assertiva, porém há um grande problema iminente caso a regulamentação do uso desta tecnologia não seja feita o mais rápido possível. Entenda o caso de forma completa agora mesmo.
O que é afasia?
Em maio de 2022, o ator conhecido mundialmente por uma série de trabalhos para a TV e cinema anunciou sua saída dos holofotes e produções devido a ter descoberto um distúrbio que o impedia de atuar. A afasia acontece após um caso de AVC, mas também pode ser causada por tumores cerebrais, encefalites, traumatismos cranioencefálicos e mais. De uma forma geral, se uma pessoa trabalha diretamente com comunicação, então precisa deixar isso de lado pois seu corpo não consegue mais agir da mesma forma que antes. É importante lembrar que a afasia não tem cura, mas o tratamento pode ajudar com que o diagnosticado tenha um dia a dia com sintomas leves.
Bruce Willis volta a atuar mesmo com problema de comunicação
Antes disso, precisamos falar sobre o que é uma deepfake: esta é uma mistura do termo Deep Learning (“Aprendizagem Profunda”, em português) e Fake (“Falsidade”, em português) que se refere a qualquer vídeo ou imagem em que um rosto é substituído pelo rosto de outras pessoas. Para conseguir usar a imagem de qualquer pessoa em fins publicitários ou não, uma empresa precisa necessariamente da autorização prévia (celebridades costumam cobrar cachê para isso). Mas muitas vezes, uma simples assinatura já permite que a imagem seja utilizada. E foi o que aconteceu com a imagem de Bruce Willis: apesar de sua assessoria ter negado que a imagem do ator tenha sido vendida para uma empresa de deepfakes, ele apareceu neste comercial russo para a telefonia móvel russa MegaFon, ao lado do ator russo Azamat Musgaliev, preso a um míssil. Assista: Publicado em agosto de 2022, três meses após Bruce Willis ter anunciado que foi diagnosticado com afasia, o vídeo em si não teve uma venda de imagem, mas a empresa que criou a deepfake afirma em seu site que o ator deu o seu consentimento para que um gêmeo digital fosse criado e imagens e voz para que isso foram utilizadas. Há um comentário do ator no site da Deepcake:
Por que isso é um grande problema para o mundo?
Sindicalistas da indústria de cinema e TV apontam que o grande problema em celebridades serem utilizadas como deepfake é que uma vez que uma empresa possui o necessário para criar um gêmeo digital, o céu é o limite. E isso também pode causar problemas para anônimos. Nos EUA, a problemática é ainda maior devido às empresas que cuidam de deepfakes serem protegidas pela Primeira Emenda. Há muitas leis que variam de estado para estado, mas no final, uma empresa não pode ser multada “apenas por criar a deepfake” pois o discurso é meramente falso. É necessário que haja um problema adicional para que as autoridades sejam acionadas. Uma empresa como a Deepcake até pode criar um gêmeo digital de pessoas como eu ou você, promovendo um serviço ou produto sem autorização prévia, mas neste caso, há a possibilidade de entrar com uma ação na justiça, pois há o uso da imagem para o ganho de dinheiro. Mas se um vídeo for criado na internet e lançando na internet apenas como material não-profissional, a empresa não teria problemas com a justiça dos EUA. Ou seja: no país com a maior economia do mundo, ainda não há uma lei que regulamenta empresas de deepfakes. O problema é maior quando uma pessoa dá amplo consentimento no uso das deepfakes, de acordo com a diretora do SAG–AFTRA (Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists): Danielle também lembra sobre o grande risco de celebridades usarem as deepfakes como forma de lucro e acabarem dando abertura para que tudo seja feito com suas imagens e voz. Ainda falando sobre os EUA, uma lei de Nova York de 2020 conseguiu realizar uma certa legalização sobre o uso de deepfakes de pessoas famosas que já faleceram. As famílias conseguem vender o direito de imagem do falecido para gerar renda aos familiares, que muitas vezes ficam com muitas contas a serem pagas.
Como anda a legalização de deepfakes no Brasil?
De acordo com dados da Agência Pública, em 2020, o Brasil era o segundo maior público de aplicativos que criavam vídeos de famosos em situações fora do habitual. Mesmo assim, ainda não há uma lei própria que fiscaliza e principalmente pune pessoas que empresas que façam o uso de vídeos modificados sem autorização prévia. O trabalho ainda acaba sendo feito por órgãos responsáveis por um assunto em específico ou até mesmo empresas que sabem que deepfakes podem ser um problema. Um dos casos mais recentes foi o da jornalista Renata Vasconcellos durante o primeiro turno das Eleições 2022. No Jornal Nacional, a jornalista realizou a leitura dos resultados de intenção de voto para presidente da república de uma pesquisa realizada pelo Ipec (Instituto de Pesquisas Cananéia). O vídeo verdadeiro e sem manipulações pode ser assistido abaixo e é possível ver que Lula estava com 44% das intenções de voto e Jair Bolsonaro atingiu 32% entre os entrevistados. No vídeo modificado, a informação foi invertida: Jair Bolsonaro atingiu 44% dos votos e Lula se estagnou com 32% das intenções de voto. Assista: O vídeo alterado foi enviado como anexo em uma denúncia para o Sistema de Alerta de Desinformação Contra as Eleições do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Ministério Público Eleitoral (MPE). De todas as formas, é importante que autoridades de todo o mundo criem um verdadeiro código com leis sancionadas, antes que o uso de deepfakes passe a ser ainda maior e tudo saia de controle. É um problema iminente que ainda pode ser evitado, mas todos devem agir desde agora para que as causas não sejam imensuráveis. Você já acreditou em alguma deepfake? Diga pra gente nos comentários! Veja também Conheça os 10 melhores websites e apps de Deepfake Fontes: WIRED l Agência Pública l Hospital Albert Einstein